LEORIDES SEVERO DUARTE GUERRA

Leorides Severo Duarte Guerra - Psicóloga, Doutoranda e Mestre em Ciências Médicas pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - FMUSP. Bolsista Fapesp-processo nº 2012/17498-9.
Especialista em Transtornos Alimentares (obesidade - anorexia - bulimia) e Cirurgia Bariátrica. Especialização em Psicologia da nutrição, pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo-Unifesp e Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Associada a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica - SBCB - Especialidades Associadas - COESAS.






quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Frequência de transtornos mentais em pacientes obesos candidatos à cirurgia bariátrica por meio de Entrevista Clínica Estruturada para Transtornos do DSM (SCID-I/P)




[Resumo da Dissertação de Leorides Severo Duarte Guerra]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, 2014.

Antecedentes: Segundo as projeções da Organização Mundial de Saúde para o século XXI, as doenças não comunicáveis (DNT) serão responsáveis pelas maiores cargas das doenças no globo. As doenças cardiovasculares e os transtornos neuropsiquiátricos destacam-se como os dois principais grupos de agravos de saúde entre as DNT.  O sobrepeso e a obesidade são considerados precursores e fatores agravantes de doenças cardiovasculares, cuja prevalência tem crescido ao redor do mundo, demandando esforços públicos para deter o seu crescimento e minimizar os seus efeitos deletérios. Os transtornos mentais, por sua vez, representam quase um terço das cargas da incapacitação resultante entre todas as DNT. O objetivo do presente trabalho é estimar a frequência de transtornos mentais numa amostra de indivíduos obesos que procuraram um hospital universitário com o intuito de se submeter à cirurgia bariátrica para controlar ou reduzir o excesso do peso corporal. Objetivo: Estimar, por meio de entrevista padronizada, a frequência de transtornos mentais e fatores correlacionados entre os pacientes obesos que procuram a cirurgia bariátrica. Métodos: Participaram do estudo 393 pacientes obesos grau III, candidatos à cirurgia bariátrica. Foram recrutados a partir de um centro universitário de cirurgia bariátrica. Clínicos treinados avaliaram os participantes por meio da Entrevista Clínica Estruturada para o DSM-IV Axis I Diagnóstico (SCID-I/P) e as seguintes escalas de avaliação: HCL (Manic Symptoms Checklist), MDQ (Mood Disorders Questionnarie), MADRS (Montgomery-Åsberg Depression Rating Scale), M-A QoLII (Moorehead-Ardelt Quality of Life Questionnaire II). A amostra foi composta por 79,1% de mulheres; média de idade 43 anos e média de IMC: 47,8 kg/m². Resultados: A frequência de alguns transtornos mentais ao longo da vida foi 80,9% (81,7% homens e 80,7% mulheres). A taxa de frequência de transtornos mentais no momento da entrevista foi 57,8% (57,6% homens e 58,5% mulheres). Os transtornos afetivos foram os mais frequentes (64,9%), sendo os transtornos bipolares e os transtornos depressivos os mais comuns (35,6% e 29,3%). Entre os entrevistados que apresentaram quaisquer transtornos mentais ao longo da vida, cerca de metade da amostra apresentou três ou mais transtornos simultâneos. Os transtornos de ansiedade foram os diagnósticos mais frequentes (46,3%) entre os participantes com transtorno atual. Idade e nível educacional foram associados com a probabilidade de apresentar transtornos mentais no momento da entrevista. As escalas apresentaram boa consistência interna: sendo o alfa de Cronbach da HCL-32 de 0,9, MDQ 0,8, MADRS 0,9 e M-A QoLII 0,7. A HCL-32 e o MDQ demonstraram uma boa capacidade discriminativa para classificar corretamente os casos de transtorno bipolar. A HCL-32 apresentou área sob a curva (AUC) de 0,7 (IC 95% 0,7-0,8), quando comparado com os diagnósticos da SCID-I/P, com sensibilidade de 0,7 e especificidade 0,7. O melhor ponto de corte foi 16/17 para detectar transtorno bipolar II. Em relação à estrutura fatorial do HCL-32, a variabilidade dos dados foi melhor explicada por dois fatores relevantes: elação do humor e irritação/ativação. O MDQ apresentou sensibilidade de 0,8 e especificidade 0,6. O melhor ponto de corte foi 4/5 para detectar transtorno bipolar I, com AUC de 0,8 (IC 95% 0,7-0,9). A MADRS de 5 itens apresentou sensibilidade de 0,8 e especificidade 0,9. O melhor ponto de corte foi 10/11 para detectar sintomas depressivos e AUC de 0,9. De acordo com o M-A QoL II, cerca de 50% da amostra relatou estar satisfeita com sua qualidade de vida. Há uma correlação significativa entre as escalas utilizadas que variaram de 0,6 a -0,6. Conclusões: Os transtornos mentais são condições frequentes entre os pacientes obesos antes da cirurgia bariátrica. As altas taxas de transtornos mentais sugerem que ambas as condições podem apresentar relações causais de mutualidade ou compartilham fatores etiológicos comuns. Este estudo contribuiu para compreender a relação entre transtornos mentais e obesidade mórbida. Recomenda-se conduzir avaliação sistemática de pacientes obesos com instrumentos psicométricos padronizados no período pré-cirúrgico para detectar transtornos psiquiátricos, que podem interferir na recuperação e estabilização da qualidade de vida dos pacientes no período pós-operatório. Futuros estudos de seguimento serão necessários para verificar os possíveis fatores preditivos de prognóstico nesta população.

Descritores: Transtorno mental; obesidade; obesidade mórbida; cirurgia bariátrica; transtornos da alimentação; entrevista psiquiátrica padronizada; escalas de graduação psiquiátrica; qualidade de vida.


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Imagens ilustrativas deste blog foram criadas pela artista plástica Priscila D. Guerra - UNICAMP

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