LEORIDES SEVERO DUARTE GUERRA

Leorides Severo Duarte Guerra - Psicóloga, Doutoranda e Mestre em Ciências Médicas pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - FMUSP. Bolsista Fapesp-processo nº 2012/17498-9.
Especialista em Transtornos Alimentares (obesidade - anorexia - bulimia) e Cirurgia Bariátrica. Especialização em Psicologia da nutrição, pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo-Unifesp e Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Associada a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica - SBCB - Especialidades Associadas - COESAS.






quinta-feira, 5 de maio de 2011

TRANSTORNO BIPOLAR E SEU ESPECTRO

O transtorno bipolar do humor, anteriormente conhecido como psicose maníaca-depressiva, é uma doença psiquiátrica caracterizada por oscilações ou mudanças cíclicas de humor e comportamentos que variam em intensidade (leve, moderada ou grave) e duração (episódios curtos, longos ou crônicos). As mudanças de humor vão desde as oscilações normais, como nos estados de alegria e tristeza, até mudanças patológicas acentuadas e diferentes do normal, como episódios de mania, hipomania, depressão e estados mistos. É uma doença de grande impacto na vida do paciente, de sua família e da sociedade, causando prejuízos, frequentemente, irreparáveis na saúde, na reputação e nas finanças do indivíduo, além do sofrimento psicológico (Moreno e Andrade, 2008).
As primeiras descrições do TB são encontradas desde a Idade Antiga, como os quadros de melancolia (excesso de bíle negra) e mania (estar louco) observados por Hipócrates, no século IV antes de Cristo. Em 1854, os franceses Falret e Ballarger, descrevem separadamente a folie circulare (loucura circular) e a folie à double forme (loucura de forma dupla). Pela primeira vez, episódios alternantes de mania e depressão foram integrados e reconhecidos numa nosografia psiquiátrica (Dubovsky e Dubovsky, 2004). Kraepelin no final do século XIX diferenciou a esquizofrenia (demência precoce) da insanidade maníaco-depressiva (atualmente denominada transtorno bipolar), com base no curso com deterioração da primeira e no curso episódico da última. Embora muitas das observações de Kraepelin sobre os sintomas e o curso do transtorno do humor bipolar permaneçam válidas, muitas características clínicas dessa doença refletem um grupo complexo sintomático de distúrbios que compartilham aspectos, tais como alta taxa de recorrência, risco mais alto de psicose e alternâncias do estado de humor, mas que diferem em áreas importantes como a distinção das categorias unipolares e bipolares (Dubovsky e Dubovsky, 2004).
A classificação do TB ainda é cercada de controvérsias. Há duas linhas distintas neste sentido: aquela que usa critérios operacionais para este diagnóstico, os quais se baseiam tanto na frequência, presença ou ausência de episódios; e outra, dita dimensional, que valoriza os sintomas num contínuum, introduzindo a idéia do espectro do TB.
A dicotomia entre unipolar e bipolar restringe o conceito de transtornos bipolar em episódios, gerando os subgrupos tipo I, tipo II e III. Akiskal e Mallya (1987) defendem o conceito de espectro bipolar e sugere que pacientes com episódios de depressão, sem mania claramente observável podem apresentar TB. Através de observações clínicas, ele percebeu que pacientes depressivos apresentando histórias de desadaptação, mudanças de emprego sem evidências técnicas que justifiquem, mudanças de residências, histórias de uso ou abuso de drogas e álcool, poderiam apresentar um curso evolutivo semelhante aos bipolares. As flutuações de humor tais como hipomania ou estados mistos são frequentes.
Ghaemi (2008) criou um critério para classificar o espectro, pois as fronteiras desse contínuum sintomatologicamente são tênues, mas todos os dados apontam indubitavelmente para que pacientes com sintomas maníacos, que definiremos como “aceitáveis” do ponto de vista social, podem, se expostos a fatores desencadeantes, evoluir para um TB propriamente dito.
O TB passou também a ser estudado através da sua correlação com outros transtornos psiquiátricos. Jimerson e cols. (1990) estudaram a associação entre os transtornos do humor e transtornos alimentares através das alterações neuroquímicas e neuroendócrinas. Fontenelle e cols. (2002) sugerem que os transtornos alimentares são expressões fenotípicas de transtornos psiquiátricos em especial dos espectros dos transtornos do humor. Segundo ainda este autor, estudos clínicos e biológicos sugerem existir uma grande semelhança entre os transtornos alimentares e os transtornos do humor. Sarwer e Fabricatore (2008) realizaram um estudo mostrando a relação da dissociação da imagem corporal em pacientes submetidos a cirurgia bariátrica em relação a outros pacientes quando submetidos a procedimentos da cirurgia plástica. Norris e Gauer (2003) apontam o surgimento dos transtornos psiquiátricos na cirurgia bariátrica, com alta frequência do TB.
Um dos poucos estudos dedicados para investigar a associação entre o TB e a cirurgia bariátrica foi realizado por Alciati e cols., (2007), que investigou o TEB em pacientes com obesidade grau III candidatos à cirurgia bariátrica. Neste estudo o autor definiu o espectro bipolar através de uma classificação de variação de humor, onde os pacientes são divididos da seguinte forma:
1) Transtorno Bipolar I (episódios depressivos associados com síndrome mania);
2) Transtorno Bipolar II (episódios depressivos associados com: a) hipomania definida de acordo com os critérios de Zurique ou b) somente sintomas de hipomania ;
3) Transtorno bipolar menor (distimia, depressão menor ou depressões breves recorrentes associadas com hipomania ou somente sintomas hipomaníacos;
4) Mania pura: a) hipomania sem diagnóstico de depressão ou; b)somente sintomas hipomaníacos.
A hipomania foi definida de acordo com os critérios de Zurique (Angst e cols., 2003) como: euforia, irritabilidade ou hiperatividade; ter experimentado problemas ou recebido comentários de outros de que há algo errado na conduta; de pelo menos três dos sete sinais classificatórios dos sintomas do DSM-IV de hipomania. Os sintomas são: 1) auto estima inflada ou grandiosidade, 2) necessidade de sono diminuída, 3) mais loquaz do que o habitual ou pressão por falar, 4) fuga de idéias ou experiências subjetivas de que os pensamentos estão correndo, 5) distraibilidade (atenção é desviada com demasiada facilidade para estímulos externos insignificantes ou irrelevantes), 6) aumento da atividade dirigida a objetivos (socialmente, no trabalho, na escola ou sexualmente) ou agitação motora e 7) envolvimento excessivo em atividades prazerosas com alto potencial para consequências dolorosas (por exemplo, envolver-se em surtos desenfreados de compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros tolos).
O autor conclui que TEB são muito comuns nos paciente obesos graves, em particular a hipomania, caracterizada pela hiperatividade, apesar de aparentemente ser contraditório em relação à falta de atividade físicas desses pacientes. Sugeriu também que a prevalência dos TEB em obeso grau III seja pesquisada futuramente para confirmar esta relação.

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Imagens ilustrativas deste blog foram criadas pela artista plástica Priscila D. Guerra - UNICAMP

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